ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

ECUMENISMO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

“Ecumenismo de baixo para cima; o Vaticano II começa a ser colocado em prática”


“Não podemos deixar o ecumenismo apenas nas mãos dos diplomatas, dos políticos ou dos teólogos: devemos pregá-lo nas paróquias”. A reflexão é de Sviatoslav Shevchuk, 43 anos, arcebispo maior da Igreja greco-católica ucraniana. Shevchuk acaba de chegar ao Vaticano, à Casa Santa Marta. Depois irá à Praça Madonna dei Monti, onde permanecerá durante um mês, em vista da oração e da celebração para recordar o 80º aniversário da grande fome (Holodomor) que provocou a morte de milhões de pessoas na Ucrânia entre 1932 e 1933.

A entrevista é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 20-11-2013. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

Qual é o impacto do novo Pontificado em seu país?

O Papa Francisco está no centro das atenções da sociedade ucraniana: as pessoas o acompanham, e se interessam por ele não apenas os católicos, mas também os ortodoxos e os não crentes. Eu tive a oportunidade de conhecer o então cardeal Bergoglio quando, em 2009, fui nomeado bispo da eparquia de Santa Maria do Patrocínio, em Buenos Aires. Ele era o meu superior imediato, porque a eparquia estava subordinada à diocese da capital argentina. Quando deixei o país, depois de ter sido eleito patriarca, presenteei-o com um ícone. Há alguns meses, em Santa Marta, ele me reconheceu e me convidou para ir ao seu quarto para me mostrar que havia trazido consigo aquele ícone ao Vaticano. O que surpreende é sua simplicidade e sua capacidade de se aproximar das pessoas. Na Ucrânia impressionou muito sua sobriedade e sua pobreza. Muitas vezes os bispos do nosso país são acusados de serem muito dependentes da riqueza, como se fossem oligarcas, como se projetassem uma Igreja para ricos. Francisco oferece o testemunho de uma Igreja próxima das pessoas, dos pobres, e anuncia o Evangelho do Senhor.

Como estão atualmente as relações entre católicos e ortodoxos na Ucrânia?

A nossa realidade é muito complexa, o nosso cristianismo está muito fragmentado: somente nós, os católicos, estamos presentes com três realidades “sui iuris”. A conferência episcopal dos latinos, a eparquia de Mukaceve (que depende diretamente da Santa Sé) e a Igreja greco-católica. Procuramos oferecer o testemunho da unidade, sobretudo entre nós. Como se sabe, também a Igreja ortodoxa está fragmentada; além da “canônica”, em comunhão com o Patriarcado de Moscou, há outras duas Igrejas ortodoxas. Fazemos o possível para colaborar. Existe um Conselho das Igrejas e também comunidades religiosas ucranianas nas quais, ao lado dos judeus e dos muçulmanos, os cristãos das diferentes confissões podem tomar atitudes em comum. Claro, na Ucrânia as Igrejas ortodoxas muitas vezes não entendem porque nós, os greco-católicos, existimos; consideram-nos um projeto político do passado. Mas também há sinais positivos, há um povo que está cansado das divisões e pede unidade, está aumentando o ecumenismo de baixo para cima.

É verdade que às vezes não se reconhece entre Igrejas cristãs nem sequer a validade do batismo?

Eu disse há algum tempo que nós, na Ucrânia, temos um pecado contra o ecumenismo, porque o deixamos exclusivamente nas mãos dos diplomatas, dos políticos ou dos teólogos. Agora devemos pregá-lo nas paróquias, para que os fiéis se acostumem a não fazer nada que possa colocar em dificuldades o outro irmão cristão. Os que devem pregá-lo são os sacerdotes e os confessores. As Igrejas cristãs na Ucrânia, na ex-União Soviética, ficaram separadas do movimento ecumênico mundial, quase “congeladas”; para nós, os católicos, a fase de recepção do Concílio Vaticano II está apenas começando. Ao mesmo tempo, os ortodoxos precisam colocar em prática na práxis pastoral decisões que já estão estabelecidas há tempo, inclusive em relação ao reconhecimento mútuo dos sacramentos. Mas, para voltar à sua pergunta, não é raro o caso de católicos que, para poder casar com um cônjuge ortodoxo, devem ser batizados novamente. Mas isto não é recíproco e nós, os católicos, não o fazemos.

Você é membro da secretaria do Sínodo dos Bispos. O Papa Francisco citou publicamente a prática ortodoxa da “economia”, que prevê a bênção das segundas uniões. O que pensa a esse respeito?

Essa prática reflete a diferença entre a teologia e o direito canônico católicos e ortodoxos. Enquanto para a teologia e o direito católico os celebrantes das núpcias são os esposos, que assumem um compromisso perante Deus, para os ortodoxos não acontece um contrato entre os esposos, mas é o sacerdote quem celebra. Além disso, com base na passagem evangélica no qual Jesus diz: “Quem repudiar sua mulher, exceto no caso de concubinato, a expõe ao adultério...”, o bispo da Igreja ortodoxa, ao avaliar o comportamento e o que aconteceu após o casamento, com um juízo pastoral e prático, não canônico, pode dar a permissão para abençoar uma segunda união. É um tema muito delicado e complexo. Espero que o Sínodo possa ajudar os pastores: não se trata, creio, de mudar a prática, teologia ou direito canônico. Trata-se, sobretudo, de ir ao encontro desses cristãos que são verdadeiramente crentes e que pedem a “regularização” da sua situação. É preciso ver como ajudá-los.

Qual é a importância da celebração de 23 de novembro que acontecerá na Basílica de Santa Sofia, em Roma, na Igreja que é o ponto de referência histórico para os ucranianos?

João Paulo II, há 10 anos, disse que aquele genocídio afetou o próprio tecido da humanidade, e que não era algo relacionado apenas com a Ucrânia. De modo especial, é importante recordar, dado que a estas pessoas negou-se inclusive a memória... Entre 1932 e 1933, milhões de pessoas morreram de fome. Mas quero precisar que não se tratou de uma seca provocada por causas naturais. Foram as tropas soviéticas que sequestraram o trigo e os alimentos. Foi “fome artificial”, induzida. Para mim, tratou-se de uma arma de destruição em massa muito econômica, uma atrocidade que ainda hoje faz com que se congele o sangue nas veias. E os comunistas venderam o trigo confiscado aos países ocidentais; alguns deles o compraram sabendo que era o preço da morte por fome dos ucranianos. Espero que seja uma ocasião para que todos recordemos e reflitamos sobre a justiça também em nível internacional. Convidei todos os ucranianos para acenderem uma vela para recordar todas as vítimas desta enorme tragédia humana.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

22 de novembro de 2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

As Igrejas Católicas Orientais unidas a Roma


Teve início nesta terça-feira (19), no Vaticano, a Plenária da Congregação para as Igrejas Orientais. Até sexta-feira, os participantes debaterão a situação dos cristãos orientais com referência a três áreas: o Oriente Médio, a Europa Oriental e a Índia, e as respectivas comunidades da diáspora.

Em várias épocas, após o Concílio de Calcedônia (451) e após o Grande Cisma de 1054, verificaram-se tentativas de encontros e contatos entre as Igrejas separadas (II Concílio de Lyon, 1274 e Concílio de Florença, 1438-39). As Igrejas Católicas Orientais, mesmo mantendo a sua própria constituição e espiritualidade, as particularidades do Direito Canônico, a possibilidade do matrimônio para o clero, os ritos e a liturgia próprios, reconheceram o primado do Papa.

Esta condição das Igrejas Católicas Orientais foi objeto de polêmicas e seguidamente influenciou negativamente o caminho ecumênico, pois eram acusadas de terem abandonado as suas Igrejas Mães, às vezes também por questões políticas. Elas, no entanto, se consideram a continuação normal de e grupos que, dentro das Igrejas Ortodoxas, sempre se sentiram em comunhão com Roma. No seu interior, existem cinco ritos, segundo a tradição litúrgica: Rito Bizantino, Rito Sírio-Oriental ou Caldeu, Rito Sírio-Ocidental e Maronita, Rito Armênio e Rito Alexandrino.

Atualmente, na Igreja Católica, além da Latina, existem 22 Igrejas ‘sui iuris’, pertencentes a estas cinco Tradições Orientais (O Exarcado Apostólico da Sérvia e Montenegro não está elencado no Anuário Pontifício entre as Igrejas ‘sui iuris’, não obstante sejam consideradas como tal por alguns).

As Igrejas de Tradição Alexandrina são a Igreja Patriarcal Copta e a Igreja Metropolita sui iuris Etiópica. As de Tradição de Antioquia são a Igreja Patriarcal Síria, a Igreja Patriarcal Maronita e a Igreja Sírio Malankarese. Já a Igreja Patriarcal Armena insere-se na Igreja de Tradição Armena. Das Igrejas de Tradição Caldéia fazem parte a Igreja Patriarcal Caldéia e a Igreja Arcebispal Maior Sírio-Malabarense. As Igrejas de Tradição Bizantina são a Igreja Patrialcal Melquita, a Igreja Arcebispal Maior Ucraniana, a Igreja Arcebispal Maior Romena, a Igreja Metropolitana sui iuris Rutena, a Igreja Metropolitana sui iuris Slovaca, a Igreja sui iuris Albanesa, a Igreja sui iuris Bielorussa, a Igreja sui iuris Búlgara, a Igreja Greco-Católica sui iuri Croata, a Igreja sui iuri Grega, a Igreja sui iuris Ítalo-Albanesa, a Igreja sui iuris Macedônia, a Igreja sui iuri Russa e a Igreja sui iuris Húngara. (JE)


Fonte: Rádio Vaticana – 2013/11/19

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Inglaterra: 50 anos de caminhada ecumênica

Sábado, 26 de outubro, a Liverpool Hope University acolheu 400 pessoas para a celebração do 50° aniversário da chegada do Movimento dos Focolares na Inglaterra.


Em Liverpool, onde foi aberto o primeiro centro dos Focolares na Inglaterra, reuniu-se na Liverpool Hope University 400 pessoas de várias Igrejas, confissões religiosas e não, provenientes de Liverpool, Leeds, Newcastle e Gales, de todas as idades. O objetivo foi recordar os 50 anos da presença do Movimento no país.

Um pouco de história: o Canônico Bernard Pawley, ao regressar do Concílio Vaticano II onde tinha participado como observador, sugeriu ao Decano da Catedral Anglicana de Liverpool convidar a fundadora do Movimento dos Focolares, Chiara Lubich, para falar na catedral a um grupo de sacerdotes anglicanos. Precedentemente, ele mesmo tinha feito esta proposta a Paulo VI, numa audiência privada, obtendo a aprovação.

Como recordou aos presentes a reverenda Kirsty Thorpe, moderadora da Igreja Reformada Unida, o contexto ecumênico que acolheu Chiara, em novembro de 1965, numa cidade conhecida pelas suas diferenças, era bem distinto do atual: “É fácil para nós, …não perceber o quanto foi insólito aquele acontecimento. Naquela época, já era raro que uma mulher falasse para um grupo de homens. Além disso, em 1960, o clero não estava habituado a sentar-se para ouvir uma pessoa leiga como o principal relator…”.

Naquele dia, 17 de novembro, no seu diário Chiara observou o significado do nome da rua Hope Street, que liga a catedral anglicana à catedral católica, e exprimiu uma oração que lhe veio do coração: “Que por meio da fé, as ‘montanhas’ da incompreensão entre as igrejas possam ser transpostas” (Mt 17,20).


Professor Gerard Pillay

Também hoje a palavra “esperança” (hope) continua a unir os Focolares a Liverpool. No seu discurso durante a celebração, o professor Gerard Pillay, vice-reitor da Liverpool Hope University, recordou que o último doutorado honorário conferido pela sua Universidade foi entregue em março de 2008, a Chiara, dois meses antes da sua morte. O título foi em Teologia, como reconhecimento pelo seu trabalho no campo do diálogo ecumênico [http://va.mu/dcYp], inter-religioso [http://va.mu/dcYq] e com a cultura contemporânea [http://va.mu/dcYr].

Afirmou ainda que o Movimento “não é uma instituição que trabalha para a construção de um império, mas que faz parte da difusão do bem no mundo. Chiara Lubich, desde o início, olhou sempre para fora”. Lembrou também as palavras do Patriarca ecumênico Bartolomeu: “Existem algumas pessoas cujas vidas tocam de modo tão universal as vidas dos outros, que, depois da sua morte, permanecem como uma inspiração da graça. Uma vida assim, uma vida digna de ser imitada e que vale a pena recordar, é a de Chiara Lubich”.

Também traçou a forte ligação entre a Hope University e o carisma dos Focolares individualizada no “nosso empenho ecumênico… É uma característica da Universidade pela qual estamos todos gratos… Chiara Lubich acreditou que o diálogo é a estrada privilegiada para promover a unidade na Igreja, entre as religiões e as pessoas sem uma referência religiosa, sem sincretismo. Não significa fazer uma mistura para tornar tudo mais atraente. É uma abertura em relação a todas as pessoas, permanecendo fiéis à própria identidade. Esta é a profunda sabedoria da sua visão”.

Fonte: http://www.focolare.org/pt/
9 Novembro 2013