A preparação da comida de interrrupção do jejum do mês do Ramadã, em Karachi, Paquistão
Como acontece anualmente, por ocasião das
festas do mês de Ramadã, celebradas com devoção por nossos irmãos muçulmanos,
surgem entre nós muitas perguntas sobre seu sentido e significado, sobre sua
origem e realização. Oferecemos à comunidade cristã, breves respostas sobre
algumas das perguntas que nos fazemos para assim poder compreender e querer um
pouco mais o povo que nos acolhe.
As informações são de Manuel Corullón
Fernández, franciscano e estudioso do Islamismo, e estão publicadas no sítio
Religión Digital, 9-08-2010. A tradução é do Cepat.
Eis o texto.
O que significa o termo Ramadã?
O nome deste mês deriva da raiz semítica r-m-d
com o significado de abrasar-se, fazer sofrer, como referência ao calor do
verão e à dificuldade do jejum quando o nono mês do calendário islâmico
coincide com o pleno verão.
Qual é a origem do Mês de Ramadã?
É o mês em que o Corão foi revelado ao profeta
Maomé. Ramadã é o único mês do calendário islâmico expressamente mencionado no
Corão (2, 185). No Corão se fala várias vezes do jejum, mas apenas uma vez de
sua prescrição no mês de Ramadã, o nono dos 12 meses do calendário lunar
islâmico. Chama a atenção o paralelismo entre a missão de Moisés e a de Maomé
acompanhada e apoiada pelo jejum do povo durante o momento da revelação.
Quais são as festas mais importantes durante
este mês?
A festa mais importante do mês de Ramadã é a
Noite do Destino, a Layla al-Qadar, assim como é descrita na sura 97 do Corão
que recebe o nome de Sura do Destino (Al-qadir). É celebrado em uma das últimas
noites ímpares do mês de Ramadã (a noite 24 ou 27), recordando a noite da
revelação do Corão ao profeta Maomé. É a noite mais santa do ano, na qual os
muçulmanos acodem durante toda a noite às mesquitas onde se recita de maneira
ininterrupta todo o texto do Corão recordando a sua revelação.
O mês de Ramadã termina com a festa da ruptura
do jejum (Aid al-Fitr), que tradicionalmente vai acompanhada de uma festa
familiar, a oração na mesquita e uma esmola ritual aos pobres. No Marrocos,
esta festa recebe também o nome de Pequena Páscoa (aid al-seghir).
Como se pratica o jejum?
No Corão e nos textos da tradição (Hadith) se
encontram as regulações legais sobre o jejum: abster-se de qualquer tipo de
alimento, bebida, tabaco, inalação de perfumes, atividade sexual desde a
primeira refeição do dia antes da saída do sol (al-sahur), até o momento em que
se rompe o jejum com a refeição do entardecer (al-iftar), depois da oração do
por do sol: “desde que se distinguem um fio branco e outro negro até que se confundem”.
Quem é obrigado a jejuar?
O jejum é obrigatório ao longo de todo o mês de
Ramadã para todos os muçulmanos de ambos os sexos que alcançaram a puberdade. Os
anciãos, enfermos, mulheres grávidas ou que estão amamentando, os que estão em
viagem, estão isentos do jejum, e deverão cumpri-lo mais adiante em uma ocasião
propícia.
Qual é o valor espiritual do Ramadã para os
muçulmanos?
A vida espiritual durante este tempo de culto
vai acompanhada de uma atividade social, familiar e moral mais intensa;
recomenda-se o exercício da esmola, revaloriza-se a oração e a recitação do
Corão.
Este mês tem uma forte dimensão espiritual para
os muçulmanos: a fome recorda a necessidade dos pobres sensibilizando as
pessoas com os famintos, para que todos possam ter o suficiente para comer. É
um momento de ascese, de autocontrole e de superação de si mesmo e de exercício
da própria vontade para dominar as paixões, resistir à fome, à sede, à
necessidade de fumar... O jejum ensina ao homem o princípio do amor sincero a
Deus, inculca nele a paciência e o altruísmo, robustece a força de vontade
exercitando a paciência e a perseverança ante a vontade, fomenta o autêntico
espírito de solidariedade ajudando os ricos e saudáveis a reconhecer as
dificuldades de pobres e enfermos e ser mais solidários com eles.
Por que o mês de Ramadã não tem data fixa?
O calendário muçulmano segue o ano lunar, com
um ciclo de 354 dias, 11 dias mais curto que o ano solar. Os astrólogos
muçulmanos medievais estudaram os ciclos da lua para calcular com a maior
exatidão possível a data do Ramadã. Cada um dos 12 meses do ano lunar tem 29
dias, 5 horas, 5 minutos e 35 segundos. Os seis meses pares do ano par são de
30 dias em vez de 29. O calendário se divide em ciclos de 30 anos, em cada um
destes períodos há 11 anos nos quais o último mês (Dhu al-Hiyra) tem 30 dias,
de modo que estes anos teriam 355 dias. Isto situa o calendário muçulmano em
concordância com a lua (com uma diferença de apenas 3 segundos).
A órbita da lua ao redor da terra dura
aproximadamente 29,53 dias, que é a duração média de um mês lunar. À medida que
se desloca ao redor da terra presenciamos as diferentes fases da lua. O Ramadã
começa com a lua nova do nono mês deste calendário lunar e termina com a lua
nova do mês seguinte, recordando os ritmos naturais da vida que se move do
nascimento à sua plenitude.